domingo, 17 de janeiro de 2016

Metade do PIB de Moçambique na década de 2020 virá do gás natural



Estimativa foi avançada por analistas do Fundo Monetário Internacional num relatório onde é feita uma análise de longo prazo à economia de Moçambique. A média de crescimento real do PIB entre 2021 e 2025 pode chegar aos 24%, avançam os analistas


O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera que em meados da próxima década metade da produção de Moçambique virá do gás natural, recomendando no entanto uma abordagem cautelosa dada a sensibilidade do sector às condições internacionais."Em meados da década de 2020, metade da produção do país será gerada pelo gás natural, mas as receitas fiscais oriundas dos projectos vão manter-se moderadas até lá por causa dos custos de depreciação das centrais de liquefacção do gás", escrevem os analistas do FMI numa análise de longo prazo à economia de Moçambique.A produção de gás natural terá um impacto brutal no país, com o FMI a antecipar que "a média de crescimento real do PIB entre 2021 e 2025 pode chegar aos 24%, o que faz com que "a percentagem de projectos de gás natural liquefeito [LNG, no original em inglês] na produção nominal de Moçambique possa ultrapassar os 50% em meados da década de 2020".Estas taxas de crescimento extremamente altas não vão, no entanto, manter-se por muito tempo: "Depois de a produção de LNG atingir o pico em 2028, com o início da operação final, o crescimento do PIB real deve descer para 3 a 4%, uma previsão que pressupõe uma expansão de 6 a 6,5% na economia extra-gás e mais nenhum crescimento no sector do LNG, o que significa que o contributo do gás para a expansão do PIB total vai começar a
declinar gradualmente no final da década de 2020".As estimativas do FMI, no entanto, não estão isentas de riscos, a começar pela conjuntura internacional, mas também tendo em conta a própria postura do Executivo, a quem é recomendada cautela."Apesar de o potencial económico dos projectos ser tremendo, as implicações orçamentais e macroeconómicas são muito sensíveis aos desenvolvimentos nos preços das matérias-primas nos mercados internacionais e a outros factores de risco, o que sublinha a necessidade de as autoridades governamentais optarem por uma abordagem cautelosa", recomendam os técnicos do FMI.No documento, que passa em revista os principais desenvolvimentos neste importante sector para o desenvolvimento económico do país, o FMI diz que "os operadores continuam confiantes na rentabilidade dos projectos a médio prazo, apesar de haver mais riscos se os preços continuarem a cair".O Fundo antecipa que "a produção e exportação de gás natural liquefeito vai começar em 2021, com a produção a aumentar gradualmente durante essa década", chegando a 2028 com uma produção média de 89 milhões de toneladas por ano.O fortíssimo aumento da produção a partir da próxima terá um impacto nas receitas fiscais, que o FMI prevê que possam chegar até 500 mil milhões de dólares até 2045. "As maiores fontes de receita serão a parte do Governo nos lucros do gás, os impostos cobrados aos concessionários, e os dividendos pagos pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos".O FMI alerta, no entanto, que os lucros não chegarão logo nos primeiros anos de produção dada a necessidade de as empresas amortizarem os seus investimentos, e nota também que "é importante que as autoridades estejam cientes deste período entre a produção de gás e a recolha de fluxos de receita deste sector, que podem valer mais de metade do total, no planeamento da sua estratégia orçamental de médio prazo".Estas previsões do FMI estão sujeitas a uma forte incerteza, desde logo pelo horizonte temporal, e por isso os próprios técnicos alertam que "vários factores de risco podem mudar significativamente estas projecções de longo prazo".Entre os principais factores que podem alterar as previsões, o FMI elenca, desde logo, os preços de venda do gás e o adiamento das Decisões Finais de Investimento, previstas para meados deste ano.Por outro lado, a estabilidade fiscal prometida às empresas pode ser comprometida por mudanças na estrutura do projecto resultantes das negociações em curso e, por último, o FMI lembra também que "o crescimento económico a longo prazo pode ser comprometido se as receitas dos projectos de gás não forem geridas adequadamente" para potenciar o crescimento da economia fora desta área.

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